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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Essencialmente VASTO.




Leio muito o blog da Ana Jácomo, uma sensível escritora. Hoje, compartilho com vocês algo que me mobilizou muito.

Reverberem como quiser!


"...

VASTIDÃO

Ana Jácomo



Você tem toda razão: é tudo vasto. Essencialmente vasto. Generosamente vasto. Assustadoramente, também. Tão assustador que, pelo medo, muitas vezes inventamos e mantemos cativeiros que nos afastam da liberdade de sermos nós mesmos e de sermos felizes sendo nós mesmos. Que nos afastam da liberdade de avançar, gesto a gesto, incluindo os tropeços, as mancadas e os cansaços todos da nossa experiência, na direção do nosso conforto mais genuíno. Da nossa alegria mais profunda. Do jeito mais nosso de somar no mundo. Da nossa paz mais macia. Disponíveis, acessíveis, mesmo quando precisamos também lidar com as adversidades invariáveis da nossa humanidade, os riscos, as incertezas, os improvisos que surpreendem os roteiros, os sofrimentos.







Você tem toda razão: é tudo vasto. Essencialmente vasto. Generosamente vasto. Assustadoramente, também. Tão assustador que, pelo medo, muitas vezes nomeamos carcereiros e lhes atribuímos poderes, responsabilidades e chaves que, mesmo que quisessem, eles não têm, pois os poderes, as responsabilidades, as chaves, estão o tempo todo no mesmíssimo lugar onde os guardamos sem lembrar de tê-los escondido. Sem lembrar que são nossos e que o acesso a eles só pode acontecer se entrarmos e passearmos, receptivos, desarmados, desnudos de ego o máximo possível, no nosso próprio coração.






Você tem toda razão: é tudo vasto. Essencialmente vasto. Generosamente vasto. Assustadoramente, também. Mas se é nossa intenção sermos felizes, prósperos, bondosos, fazer florescer sementes de amor na nossa passagem por aqui, mesmo com todo medo do mundo, precisamos querer de verdade ir além da nossa assustada e acomodada estreiteza. Tantas vezes, tão doída. Tantas vezes, tão motivadora.






Você tem toda razão: é tudo vasto. Essencialmente vasto. Generosamente vasto. Assustadoramente, também. Inclusive, o próprio amor. Que não tem limites. Que tudo pode curar. Que tudo pode abraçar. Que tudo pode transformar, contrariando as perspectivas apertadas e assustadíssimas das temporadas nos cárceres.


                                                                ..."

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O eu profundo e os outros Eus.





[...]
Quando emergimos de repente ante o estagnar dos lagos sentíamo-nos a querer soluçar. . . Ali aquela paisagem tinha os olhos rasos de água, olhos parados cheios de tédio inúmero de ser. . . Cheios, sim, do tédio de ser qualquer coisa, realidade ou ilusão — e esse tédio tinha a sua pátria e a sua voz na mudez e no exílio dos  l a g o s . ..
E nós, caminhando sempre e sem o saber ou querer, parecia ainda assim que nos demorávamos à beira aqueles lagos, tanto de nós com eles ficava e morava, simbolizado e absorto. . .

E que fresco e feliz horror o de não haver ali ninguém! Nem nós, que por ali íamos, ali estávamos. . . Porque nós não éramos ninguém. Nem mesmo éramos coisa alguma.. . Não tínhamos vida que a morte precisasse para matar. Éramos tão tênues e rasteirinhos que o vento do decorrer nos deixara inúteis e a hora passava por nós acariciando-nos como uma brisa pelo cimo de uma palmeira.
Não tínhamos época nem propósito. Toda a finalidade das coisas e dos seres ficara-nos à porta daquele paraíso de ausência. Imobilizar-se, para nos sentir senti-la, a alma rugosa dos troncos, a alma estendida das folhas, a alma núbil das flores, a alma vergada dos frutos. . .
E assim nós morremos a nossa vida, tão atentos separadamente a morrê-la que não reparamos que éramos um só, que cada um de nós era uma ilusão do outro, e cada um, dentro de si, o mero eco do seu próprio ser. . .
Zumbe uma mosca, incerta e mínima. . .
[...]

(Fernando Pessoa- Na floresta do Alheamento)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Minutos de Sabedoria






SEJA FORTE E CORAJOSO. NÃO SE DEIXE VENCER PELA ADVERSIDADE, PELA DOENÇA, PELA DOR. SAIBA QUE A FORÇA DIVINA JAMAIS O ABANDONA, PORQUE ESTÁ DENTRO DE VOCÊ MESMO. REAJA COM FIRMEZA, PORQUE O AUXÍLIO LHE CHEGARÁ NA HORA OPORTUNA. A MESMA FORÇA QUE ESTÁ DENTRO DE VOCÊ DIRIGE OS UNIVERSOS INFINITOS... TENHA CONFIANÇA E SEJA CORAJOSO. SEJA FORTE! TENHA BOM ÂNIMO!
 (Minutos de Sabedoria)


As leituras, as músicas, os momentos falam por si... E a vida segue..!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Coletânea de Martha Medeiros.


Por hora, reverberarei, Martha Medeiros, uma colunista do jornal Zero Hora em Porto Alegre e também O globo do Rio de Janeiro. Escreve crônicas e poesias do cotidiano, reverberando sempre alguns propósitos certeiros. Deliciem-se! =)







   Existem duas dores de amor:


A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão embrulhados na dor que não conseguimos ver luz no fim do túnel.

A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.

A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado. Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também...

Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir, lembrança de uma época bonita que foi vivida... Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, lógicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente, e que só com muito esforço é possível alforriar.

É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma durar mais do que a "dor-de-cotovelo" propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: "Eu amo, logo existo".

Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente...


E só então a gente poderá amar, de novo.
Martha Medeiros



"[...] Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos. 
                                Um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu acaso, sua adoração ou seu desprezo. 
                                                               O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia. (...) 
        As coisas muito boas e as coisas muito ruins exigem explicação. Coisas mais ou menos estão explicadas por si mesmas.
                      Não gosto de nada que é raso, de água pela canela. Ou mergulho até encontrar o reino submerso de Atlântida, ou fico à margem, espiando de fora. 
                                                                                         Não consigo gostar mais ou menos das pessoas, e não quero essa condescendência comigo também.[...]"


Martha Medeiros 
(O Divã)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Afinal, o amor é só isso? É só isso o amor?



[...]
Todos nós estamos profundamente envolvidos e comprometidos com a problemática do amor.
Partimos da suposição de que todos nós estamos sujeitos a algumas normas unificadoras e uniformizadoras da conduta social. Assim, somos julgados permanentemente pelos critérios de adequação, não necessariamente explícitos, de cada grupo social a que pertencemos.
Sabemos que, para além do comportamento manifesto, exista um mundo interno e subjetivo de cada indivíduo, mundo esse que torna-se algo inacessível aos outros. Portanto acreditamos estar todos nós sujeitos a julgamentos ilegítimos pela nossa conduta, semelhantemente ao que fazemos com relação à conduta dos outros.
O amor, se ele realmente existe e persiste, de fato, como uma capacidade inerente presente no indivíduo, não é o único evento interno que leva a manifestações comportamentais públicas habitualmente tidas como características típicas da pessoa que está na condição de amar.
Todos nós o sabemos, é desnecessário dizê-lo.
Entretanto estamos frequentemente atribuindo ilegitimidade o rótulo diagnóstico de "amar" determinados indivíduos, apenas porque não demonstram que não o são.
Uma vez que identificamos e reconhecemos como "amor", muitas vezes nem notamos mais a sua presença ou não damos devida atenção à sua presença. Mas a ausência, o silêncio e as inadequações podem esconder muita coisa de que nem idéia podemos fazer, enquanto estamos ocupados em avaliar e julgar a conduta de quem ama, através de um determinado sistema fechado de padrões e parâmetros. Acreditamos, pois, que temos muito a aprender,se formos capazes de, e talvez corajosos para, dar ouvido a esse silêncio tão ruidoso e ver essa ausência tão presente.
[...]

Este meu relato contém , certamente, muitas imprecisões e até certa tendenciosidade nas interpretações. Digo que é um pouco da individualidade que não consigo deixar de lado.
Permito-me essa liberdade, embora saiba das limitações que deveriam impor-me ao fazer a opção por um modo de produzir e relatar certas reverberações. Uma limitação é imposta pela linguagem que essa opção condiciona. Igualmente, essa opção implica numa outra limitação: a da expressão do meu pensamento, porque nem tudo que me ocorre, no meu cotidiano, em minhas atividades, reverberações algo solitário de enfrentar um desafio de verbalizar o sentir, o que reverbera em mim. Acredito que, no entanto, a experiência de crescimento pessoal possa contribuir a você, caro leitor, para que, com o passar do tempo, o que hoje pertence ao terreno do que deve ser calado possa ser um dia dito em bom tom, e ser ouvido.
Neste longo período do viver, onde há encontros e desencontros do nosso pensamento, sinto-me um pouco só, mas, na realidade, conto com o auxílio de muitas pessoas, aquelas que reverberam a todo momento algo positivo em mim!


Afinal, o amor é só isso? É só isso o amor?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Via Láctea!


A Via Láctea


Quando tudo está perdido

Sempre existe um caminho

Quando tudo está perdido

Sempre existe uma luz


Mas não me diga isso


Hoje a tristeza

Não é passageira

Hoje fiquei com febre

A tarde inteira

E quando chegar a noite

Cada estrela

Parecerá uma lágrima


Queria ser como os outros

E rir das desgraças da vida

Ou fingir estar sempre bem

Ver a leveza

Das coisas com humor


Mas não me diga isso


É só hoje e isso passa

Só me deixe aqui quieto

Isso passa

Amanhã é um outro dia

Não é?


Eu nem sei porque

Me sinto assim

Vem de repente um anjo

Triste perto de mim


E essa febre que não passa

E meu sorriso sem graça

Não me dê atenção

Mas obrigado

Por pensar em mim


Quando tudo está perdido

Sempre existe uma luz

Quando tudo está perdido

Sempre existe um caminho


Quando tudo está perdido

Eu me sinto tão sozinho

Quando tudo está perdido

Não quero mais ser

Quem eu sou


Mas não me diga isso

Não me dê atenção

E obrigado

Por pensar em mim

Composição: Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/ Marcelo Bonfá 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A descoberta do amor!








A descoberta do amor





(Clarice Lispector)






“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.

Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.

Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.

Pois juro que a vida é bonita.”