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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O que é cumplicidade para você?

"Nos anos 70, Marina Abramovic viveu uma intensa história de amor com Ulay. 
Durante 5 anos viveram num furgão realizando todo tipo de performances. 
Quando sentiram que a relação já não valia aos dois, decidiram percorrer a Grande Muralha da China; cada um começou a caminhar de uma lado, para se encontrarem no meio, dar um último grande abraço um no outro, e nunca mais se ver.
23 anos depois, em 2010, quando Marina já era uma artista consagrada, o MoMa de Nova Iorque dedicou uma retrospectiva a sua obra. 
Nessa retrospectiva, Marina compartilhava um minuto de silêncio com cada estranho que sentasse a sua frente. 
Ullay chegou sem que ela soubesse, e foi assim."




Pelas sensibilidades ...
Pelas cumplicidades que construímos...
Pelo poder de um olhar...
Pelas verdades contidas nas melhores expressões internas...
Pelas reverberações infindáveis deste momento...
Pela beleza, das diferentes formas de afetar e ser afetado!!!!

Carolina/fev2013

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sobre a tal liberdade!



Nossa liberdade é parcial, todos sabem.
Não me refiro ao país, e sim à nossa liberdade individual, minha e sua. 
Sempre que toco nesse assunto me vem à cabeça aquela frase que citei outras vezes: 
'O máximo de liberdade que podemos almejar é escolher a prisão em que queremos viver.' 
É isso aí. E quais são essas prisões? 
Pode ser um casamento, ou, ao contrário, um compromisso com a solidão. Pode ser um emprego ou uma cidade que não conseguimos abandonar. Pode ser a maternidade. Pode ser a política. Pode ser o apego ao poder. 
Enfim, todas as nossas escolhas, incluindo as felizes, implicam algum confinamento, em alguma imobilidade, e não há nada de errado com isso, simplesmente assim é a vida, feita de opções que nos definem e nos enraizam.
Mas às vezes exageramos. 
Costumamos nos acorrentar também a algumas certezas e pensamentos como forma de dizer ao mundo quem somos. 
É como se redigíssemos uma constituição própria, para através dela apresentar à sociedade nossos alicerces: sou contra o voto obrigatório, sou a favor da descriminação das drogas, sou contra a pena de morte, sou a favor do controle de natalidade, sou contra a proibição do aborto, sou a favor das pesquisas com célula-tronco. 
Esse é apenas um exemplo de identidade que forjamos ao longo da vida. 

Você deve ter a sua, eu tenho a minha.

Dá uma segurança danada saber exatamente o que queremos e o que não queremos, no que cremos e no que desacreditamos. 
Mas onde é que está escrito, de fato, que temos que pensar sempre a mesma coisa, reagir sempre da mesma forma?
Ao trocar de opinião ou de hábitos, infringimos nossas próprias regras e passamos adiante uma imagem incômoda: a de que não somos seres confiáveis. 
As pessoas à nossa volta já haviam aprendido tudo sobre nós, sabiam lidar como nossos humores e nossos revezes, estava tudo dentro do programa e, de repente, ao mudarmos de idéia ou fazermos algo que nunca havíamos feito, subvertemos a ordem natural das coisas.
Quando visito algumas escolas, encontro estudantes um pouco assustados com as escolhas que farão e que lhe parecem definitivas. 
Tento aliviá-los: pensem, repensem, mudem quantas vezes vocês quiserem, é permitido voltar atrás. 
Digo isso porque eu mesma já reprimi muito meus movimentos, minhas alternâncias, numa época em que eu achava que uma pessoa séria tinha que morrer com suas escolhas. 
Ainda há quem considere leviana a pessoa que se questiona e se contradiz, mas já bastam as prisões necessárias - para que cultivar as desnecessárias?
Optei pelas medidas provisórias. 
Por isso, todos os anos eu faço uns picotes na minha constituição imaginária e jogo os pedacinhos de papel pela janela: é assim que comemoro o Dia da Independência. Da minha.
Martha Medeiros