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domingo, 26 de setembro de 2021

 Um médico para a vida inteira. 



Doutor Matheus Marim morreu de COVID-19 em 2021. Difícil digerir e acreditar. Mas é isso. Ele morreu e nós ficamos. 


Estive em seu consultório, em Campinas - SP, desde 1991, a cada seis meses. Após sua morte pude compreender o que de fato este acompanhamento significou para mim. Doutor Matheus era sereno, tinha um olhar penetrante e que fazia silenciar minhas próprias ansiedades, poucas palavras eram suficientes para que eu pudesse compreender por mais 6 meses aquilo que eu precisava para continuar em frente. 

Doutor Matheus me ensinou sobre a vida. Foi isso que aprendi com ele nestes anos todos. Doutor Matheus me ensinou sobre o cuidado compartilhado, sobre o respeito por minhas escolhas, sobre falar sua opinião quando precisou, quando me alertar das minhas próprias sombras. Homeopaticamente me ensinou a ser resiliente. Olhar para a natureza e para as delicadezas. Doutor Matheus me ensinou a amar a vida! 

Em nosso último encontro, Fevereiro de 2021, eu já estava angustiada com a possibilidade de perdê-lo e ele reforçou: Isso vai acontecer, aliás é a única certeza que você deveria ter. Eu vou e você fica! Sai da consulta, após 2 horas lá dentro, incomodada com nossa conversa, na semana seguinte confirmei a suspeita que ele teve em seu consultório, ele me alertou: este será o ano que mudará a sua vida. De fato, é um ano desafiador e lindo. Mas perdê-lo não estava nos planos. 

Doutor Matheus se fez vida até na sua morte. Morreu da mesma maneira que havia me contado uma vez sobre uma paciente. Ao som de Bach, ao lado dos seus amores, lúcido como sempre esteve e consciente de que seu legado nunca será apenas as benfeitorias que fez pela medicina brasileira, mas sim, a transformação que causou em cada um que com ele esteve. 

Ser vida na sua morte. Nos ensinou que a vida é boa até nos momentos mais tristes. 

O meu médico da vida inteira morreu, mas ele me ensinou a viver da melhor maneira e assim vamos seguir! 

Meu luto ainda está sendo vivido, o desamparo vai saindo e nas orquídeas florindo em casa encontro a força que procuro. 

Como ele sempre me disse: confie em você, tudo o que você precisa, na maioria das vezes, está dentro de você!

Voa Doutor Matheus Marim. 



segunda-feira, 22 de junho de 2020

Dia 100

Foto: Carolina C. Gregorutti

Brasília, 22 de junho de 2020.

Dia 100


Hoje fiz a conta, deu um número assustador. Sim, 100 (cem) dias dentro do meu apartamento em Brasília. E agora percebo porque deprimi no último sábado. Era um choro que não cabia em mim e nem eu mesma sabia por que chorava. Chorei no dia 98 (noventa e oito) e voltei a sorrir no dia 100 (cem). Mas como foi chegar até aqui?

No início era um susto e um desespero total. Ouvia de todo mundo: - Estamos muito preocupados contigo, você é grupo de risco, não se arrisque!
E eu, escutava, acolhia e cumpria. Cumprindo sigo! Mas não me considero mais um grupo de risco, pois consegui chegar até aqui. Risco então, não são aqueles que insistem em nadar contra a corrente? Hoje, tenho pressa em dizer que sim: Vocês são o risco para os seus amigos, familiares e vizinhos. Sim, vocês são o risco do Brasil.

Nesse tempo, de 100 (cem) dias, me ajustei internamente e haja estica e puxa, de lá e de cá. Precisei ressignificar cada cantinho da minha casa, limpei tudo nas primeiras semanas, mudei o que eu queria, fui respirando aqui dentro. Transformar espaços é realmente desafiador e transformá-los morando dentro deles e vivendo este processo é totalmente conturbador! Uffa, 100 (cem) dias e estou na casa que eu vivo e gosto. Mas seria o aposento? Não, to falando da minha casa interna. E tudo o que eu disse até aqui era sobre mim.

Briguei comigo no primeiro mês, eu me sentia feia, gorda, fraca pra fazer exercícios, inquieta para ler um livro, irritada com o fogão e atordoada com o ferro de passar roupa. Me sentia uma tonta atendendo as crianças no online, percebendo que os pais deles também estavam se sentindo como eu.
No segundo mês briguei com o mundo inteiro, quis voltar a militar pelo que acredito politicamente, me violentei lendo e vendo televisão insistentemente, falava e falava em todos os grupos que eu tinha no whatsapp, queria gritar para todos que a pandemia era real, mas parecia que ninguém queria escutar. Eu trabalhava mais e ganhei tão pouco, o que estava acontecendo?

No terceiro mês me acalmei, respirei fundo, olhei para o espelho e gostei do que vi, preenchi minha casa com meu cheiro, vi a flor de orquídea florescer, parei de me violentar e aceitei. Continuei trabalhando muito, mas sabia e sei o que estou fazendo ali. Resolvi olhar para mim, me aceitar. Desliguei a televisão, li o livro que queria, respirei e respiro fundo todos os dias.
E percebi que não estava sozinha. As redes me ajudaram a entender que era realmente esta a proposta do momento e só quem não quer ver são aqueles que hoje chamo de grupo de risco para o Brasil. E muito provavelmente você irá se identificar neste texto, ou comigo, ou com quem aponto como grupo de risco e peço: faça algo com isso.

No trabalho, comecei a escutar mais e me colocar apenas quando necessário. Notei que o amor que tenho pelo que faço é o que me completa em todos os sentidos e é neste espaço que eu quero sempre estar. Aprendo diariamente e um dia escutei: é um pacto social, não quero sair de casa por você, Carol! Ali eu compreendi, o risco de saúde é meu, mas aqueles que não entenderam o contexto de cuidado ficam, para mim, rotulados como grupo de risco para o Brasil.
Sei que há muitos por aí que querem ampliar produtividade, ficar magro, ser a mãe exemplar, a esposa provedora do lar aconchegante, o chefe querido por todos, etc e etc, mas sinto dizer, só teremos a melhor versão de nós mesmos se soubermos estar no lugar que vivemos em presença e leveza, e novamente digo: não é o seu aposento, é você!

E agora são 100 (cem) dias de isolamento, quantos dias a mais virão? Não sei. Não pretendo saber e prefiro me manter neste contexto de cuidado, comigo e com todos que amo. Me percebendo, aquietando, silenciando e observando. Tudo está tão claro e se completando, que neste espaço não quero sair.

Talvez seja a estratégia que eu tive para sobreviver até aqui e acredito que é isso mesmo. Mas não queria me calar, eu queria escrever, pois estou vendo muitas pessoas que amo inquietas e tristes pois estão sendo obrigadas a não ficarem no “grupo de contexto ao cuidado” e isso está violentando elas, por não serem o grupo de “risco” que a OMS colocou, e assim, não terem a “desculpa” perfeita para permanecer no isolamento e ainda por cima estarem sendo motivo de chacota, ou  de desdém por compreenderem que somente o isolamento modifica números como os de hoje: oito dias, um milhão de novos casos em TODO mundo.

Por definição declaro grupo de risco para o Brasil: você que reclama toda hora da máscara e não conseguiu se entender com ela ou simplesmente desistiu. Você leu? Você que não usa a máscara é risco para as pessoas a sua volta. Você que precisa mudar de “ares” e quer estar na praia, malhar nos parques, praticar qualquer atividade em grupo (ou pior, em grupo e SEM MÁSCARA!!!), você é risco para o Brasil. Você que acha que não precisa passar álcool gel, que não quer manter distancia mínima de segurança, que não troca a roupa quando chega em casa, que não toma banho e lava os cabelos por preguiça, você é risco para o meu país. Você que é chefe e insiste em ter todos os seus funcionários no mesmo espaço sem ao menos tentar efetivamente implementar trabalho remoto, você é o risco para o Brasil. Você que solta seu cachorro no gramado, vendo que ele está curioso para cheirar outras pessoas e sabe que elas terão compaixão e irão fazer carinho nele, você é o risco para o Brasil. Você que quer manter seu estabelecimento aberto descumprindo as medidas das autoridades responsáveis, você é o risco maior do meu país.

Ainda falando com você, que nos coloca a todos em risco, saber que pode carregar esse vírus que vai infectar uma pessoa e que esta, por consequência, pode infectar outras - e em algum ponto dessa transmissão alguém poder morrer - não é suficiente para ficar isolado? Não é suficiente para você, grupo de risco?

Você, que acredita que o vírus não vai pegar você, porque tens a vida perfeita, plena e consciente, você é o grupo de risco para o Brasil. Você, você e você, entendeu?
São 100 (cem) dias, não é uma crença, não é um excesso de cuidado, é uma situação extrema, são milhões de mortes sem apoio do governo e você, grupo de risco para o Brasil, é conivente com isso tudo.

Vivo a pandemia do COVID-19 e estou compreendendo muito sobre mim e sobre você!
C´est l avie!

Carolina Cangemi Gregorutti   

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Uma pergunta por dia...



Em tempos de tantas perguntas, há quem dê de presente livros que querem boas respostas.
Para respondermos todas, sagradamente, é preciso exercitar não só a organização rotineira, mas também a organização interna.
Eis que hoje o livro perguntou:

Qual é o seu maior obstáculo no momento?

E a resposta demorou, demorou, demorou e ainda não saiu...

Será a "dúvida" o nosso maior obstáculo?
Carolina 12/02/2016

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Comece a mudar seu olhar.

Para melhor conhecer as pessoas
A primeira condição para conseguirmos conhecer melhor as pessoas diz respeito a tratarmos de evitar o erro usual de buscarmos avaliá-las tomando por base a nós mesmos. Ou seja, um erro grave é o de pensar assim: “eu no lugar dela faria isso ou aquilo”; a verdade é que eu não sou ela e a forma de ser e de pensar não acompanha obrigatoriamente a nossa. Temos de nos afastar da nossa maneira de pensar e tentar, com objetividade, entender como funciona o psiquismo de quem queremos conhecer.
Um aspecto importante para quem quer efetivamente conhecer o outro consiste em prestar bastante atenção em seus atos, gestos, expressões corporais e faciais. Podemos saber muito de uma pessoa pela forma como se move dentro de casa, como pega o jornal, se ela serve ou não as pessoas que estão à sua volta, pelo sorriso, pela facilidade com que se irrita, como reage quando está com raiva e assim por diante. Esses traços são particularmente relevantes quando o observado está distraído, sem intenção de impressionar os interlocutores. A objetividade na avaliação é essencial e depende de critérios de valor claros na mente do observador.
É claro que se pode conhecer muito das pessoas por seus sentimentos: sua capacidade de amar e se dedicar, a forma como lidam com o ciúme, como se comportam quando sentem inveja, se têm controle sobre suas emoções ou não.
Um aspecto que me chamou a atenção mais recentemente e que considero extremamente relevante é que as pessoas mais egoístas – as que recebem mais do que dão e que, por isso mesmo, são mais dependentes – são mais realistas e objetivas para analisar o modo de ser das pessoas com as quais convivem. Elas buscam se aproximar de pessoas mais generosas, competentes para lhes dar o que necessitam. Elas sabem perfeitamente que os mais generosos são ricos em sentimentos de culpa, esta que, uma vez estimulada, faz com que não resistam e digam “sim” mesmo quando gostariam de dizer “não”. É curioso, pois os mais egoístas não são muito empáticos, ou seja, não são competentes para se colocar no lugar das outras pessoas; porém, são objetivos e realistas na avaliação dos que os cercam. Isso nos leva a concluir que a atitude empática, a de se colocar no lugar do outro, pode nos induzir a erros de avaliação bem maiores do que aqueles que derivam da observação direta e objetiva.
Os mais generosos, aqueles que, por vaidade ou incapacidade de lidar com excesso de sentimentos de culpa, dão mais do que recebem, são os que mais erram na avaliação que fazem a respeito de seus interlocutores. A forma como exercem a empatia, a de imaginar o outro à sua imagem e semelhança, ofusca a objetividade que deveriam ter para perceber que os seres humanos não são tão parecidos conosco quanto gostaríamos. A verdadeira empatia deveria se assemelhar à dos “hackers”, aqueles que tentam entrar na mente do outro com isenção, buscando entender como é que ela funciona.
Perceberiam, por exemplo, que os mais egoístas não sentem culpa e não têm pudor em dramatizar situações com o intuito de provocar esse sentimento nos mais generosos. Perceberiam que a ausência de culpa gera uma diferença enorme entre as pessoas, de modo que os mais egoístas mentem com facilidade, inventam sofrimentos duvidosos apenas com o intuito de, pela via da chantagem sentimental, induzir os mais generosos a agir de acordo com sua vontade e satisfazer seus anseios e necessidades.
A conclusão a que devemos chegar é que o realismo e a objetividade são bons mecanismos de exploração do meio externo e que a avaliação das pessoas também deve ser regida pela observação dos fatos e não por ideias.
Os mais generosos tendem a ser idealistas nos dois sentidos da palavra: se baseiam mais em suas suposições do que nos fatos; e também tendem a ver beleza e virtude onde não existe: acreditam que, no fundo, todas as pessoas são boas e que têm coração de ouro.
A proposta de Freud, de que todos temos um Super Eu, uma censura moral interna, deriva de generalizações que ele fez tomando por base a si mesmo e algumas outras pessoas. Convém ser realista e objetivo: uma boa metade da humanidade não sente culpa. Assim, quem quiser aprender a conhecer melhor as pessoas deve se ater aos fatos mais que às ideias. O realismo só gera certo pessimismo numa primeira fase e para aqueles acostumados com o mundo das ideias onde tudo é belo e, principalmente, existe de acordo com seus gostos e vontades.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Gratidão e presença!

São seis meses sem postar.
São seis meses de agradecimento pela vida!
São seis meses desejantes de um novo ano com a promessa de uma postagem ao mês.
Serão como eram, reverberações. 
Respeitando o crescimento e a compreensão.
Prevalecendo a sensibilidade.
Gratidão por vocês me seguirem!
Seguimos...