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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Onde começar o amor...





Depois de tantos dias, retorno nesta semana com um texto extremamente sensível e delicado de Ana Jácomo... Sim, mais um 'daquela' que anda falando por nós, a sua maneira, tornando também "a nossa maneira" rotineira de encarar a vida com sentimentos ainda mais puros.....! REVERBEREM!


Quando eu caía, nos meus tempos de criança, abria o berreiro e, num passe de mágica, aparecia um monte de adultos: mãe, pai, avós, tios, bisavô. Só faltava a imprensa. Até o cachorro da época, que nem gostava muito de mim porque tinha ciúmes da minha mãe, corria para ver o que eu havia aprontado daquela vez. Geralmente, nada: era uma menina muito tranqüila. Tanto, que se fosse possível voltar no tempo eu resgataria a oportunidade de ser um pouco mais levada. Como não é, fica pra próxima.

Caía como gente de toda idade cai. Por descuido. Por uma momentânea falta de equilíbrio. Sem saber que troço aconteceu para confundir tanto as pernas. Aí vinha a parte boa do tombo: com exceção do cachorro, que não queria conversa comigo, era comum eu ganhar beijinhos daquela turma, sob a alegação de que o carinho faria o susto passar. Às vezes, eu nem estava mais assustada, não havia nada doendo, mas prolongava o choro só para ser mais beijada. Eu era tranqüila, mas não era boba.

Doce sabedoria, aquela: joelhos e braços continuavam feridos por alguns dias, mas o susto realmente passava logo depois do cuidado carinhoso. Para os machucados do corpo, existem alternativas para curativo. Mas, para os sustos dos tombos que a gente leva na vida, o que é bom mesmo é amor. Sem talvez perceberem, aqueles meus queridos protetores faziam algo muito importante ao permitir que o meu susto fosse reconhecido. As manchas roxas na pele tendem a desaparecer num curto período de tempo, com ou sem aplicação de pomada. As manchas que os sustos colorem na alma, não. Essas precisam de outro tipo de atenção para serem dissolvidas.

Alguns sustos somente se dissipam quando encontramos alguma palavra, algum carinho, alguma luz, que os libertem. Susto doído aprisionado pode virar um ponto de obstrução na alma que dificulta que a vida flua mais contente. A gente pode escolher fingir não lembrar que existe uma tristeza que não foi beijada ali, mas isso não faz com que ela pare de doer em silêncio, e poucas coisas são tão perigosas como as dores que crescem sem fazer barulho. Olhar, reconhecer, chamar pelo nome, tratar, é escolher beijar, esvaziar, e seguir.

De sustos doídos, de outra natureza, muito diferentes dos tombos da infância, nós entendemos bem. Não acho que seja possível passar pela vida sem susto algum. Não, não temos controle com relação a isso. Com toda a tecnologia do nosso mundo, não existe uma tecla que, ao ser apertada, nos impeça definitivamente de sofrer. Ninguém escapa da dor. Eu, pelo menos, nunca conheci uma pessoa que nunca tenha vivenciado o sofrimento, de alguma forma, em algum lugar da caminhada.

Por mais que a vivência seja solitária, não estamos sozinhos nesse sentimento. Em qualquer local do planeta, todos sabem do que se trata. Às vezes, até achamos que sofremos mais do que os outros e ficamos estagnados nessa crença. Mas, isso não vem ao caso. Não nos interessa competir para saber de quem é a dor maior. O que interessa é descobrir como podemos esgotá-las. Curá-las. Transformá-las. E é aí que entra a metáfora dessa história: depois de adultos, isso começa com o nosso próprio reconhecimento. Com o nosso próprio beijo. Com toda gentileza possível com a nossa vida. Com a nossa permissão.

De vez em quando, reencontro pessoas que passo muito tempo sem ver e elas me contam de novo sobre a mesma dor. Aquela que, com o passar dos anos, costuma se ramificar em outras tantas, às vezes já impressas no corpo. Pode mudar o cenário, as personagens, mas o argumento está intacto. E a impressão que me dá, em algumas circunstâncias, é que, de alguma maneira, elas continuam lá na infância, aguardando vir somente de fora os beijos para os seus sustos, o curativo para os seus machucados. É como se ficassem paralisadas nessa expectativa.

Aperta o meu coração, uma vontade de dizer sem saber se o outro quer ouvir: cuida de você, você pode, você é capaz, não fica aí nesse lugar. Vontade de dizer, compassiva, com empatia, porque eu muitas vezes também fiquei esperando. Até começar a entender que, depois que a gente cresce, a proteção amorosa, o suporte, a delicadeza, precisam começar na nossa relação com nós mesmos. É muito bacana, uma dádiva, termos relações de troca afetuosa e zelo recíproco na nossa vida. Uma benção receber amor. Mas quando a gente dói, a gente precisa saber formas de cuidar da própria dor com o jeito carinhoso com que gostaríamos de ser cuidados pelos outros, com a delicadeza com que cuidamos de outras pessoas. A gente precisa se ter, antes de tudo. O beijo precisa começar em nós." 

                                                                                                 (Ana Jácomo)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sua máscara pode cair!



Ter máscara é se fantasiar de algo que não faz parte de você, mas você gostaria que (...)  
E você “precisa” de (...)
Em contrapartida, ter máscara pode ser uma forma de blindar-se. ((Blindar-se do que?))
Afinal, criar máscaras é ruim? Não é do ser humano ser mascarado? ((Ser humano? Mascarado? Não é errado?))
Será que a vida não exige que sejamos “tipo camaleões”???
Será? ((SERÁ???))
Será que já não o somos?
Será...          
Pense no trabalho e sua postura, na mesa de bar e seus sorrisos, na conversa com a amiga e suas curiosidades, com o seu bem querer e todas as novidades. Pense nas descobertas, pense nas situações erradas em que você se mete. Pense nas suas traições. 
Nas reverberações.  
Pense em você!
Pense neles...
Pensaremos nas bailarinas que se travestem na pureza mais singela corporal, onde ali tudo é dor e exigência. Nos cantores que cantam as dores, mas são muito felizes. Nos políticos que se corrompem, mas mantém o discurso do “bem maior”. Nos médicos que falham e ainda se consideram detentores do poder da vida e nos diversos outros profissionais que mesmo falhando, se vestem na perfeição de suas imaginações, para não precisarem lidar com o sentimento do fracasso. Pensem nos religiosos corrompidos. Nos namoros falidos. Nas relações acabadas... 
Pensem, pensem...
Procure em seu cotidiano as máscaras e acredite!
Elas existem! ((EXISTEM?))
      Para não magoar ao outro, para não se magoar. Para não temer e também para lutar. Para se satisfazer e para simplesmente acreditar. Criamos máscaras.
Podem ser de gesso, mas com a expressão de felicidade. De madeira, expressando saudade. De couro, cheirando a amizade. Ou podem simplesmente ser uma maquiagem...
Assumimos posturas diversas para lidar com as situações que nos são impostas. ((Somos humanos?))
Não há o que criticar ou devanear!
É preciso aceitar. ((Como?))
As máscaras são parte de nós, as máscaras nos ajudam a viver...
Pense com você, quantas máscaras você tem? Em quais situações elas são perfeitas e em quais outras não param no seu rosto?
Quantas permanecem?  ((Tantas?))
Quantas caem? ((Poucas?))
Elas se sustentam por muito tempo?
E se tudo cair? E se a fotografia rasgar? E se a maquiagem acabar?
O que vai sobrar?
Pense em você!
Pense neles...
Pense...
E se (...)
Carolina Julho/2012

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A Flor e a Náusea



A FLOR E A NÁUSEA

Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.

O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.


Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.

Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.

Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.

É feia. Mas é uma flor.
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

(Drummond)



terça-feira, 3 de julho de 2012

O lúdico no bolo de chocolate




Doce tarde, doce pôr do sol, doce capuccino, café preto doce, doce... Doce.. Tudo DOCE!

O bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro feito com muito amor torna-se alvo de reverberação..quanto sabor, quanto carinho, que cheiro doce... Que DOCE!
Quer um pedaço? Venha comigo ...


Nesta tarde, pensar em coisas boas foi sinônimo de doçura... Acordar com os olhos de amor, o sorriso que há muito tempo não abria tão verdadeiramente, a partilha da amizade tão intensa, a ligação familiar tão amorosa, o olhar singelo para si... muito DOCE!
Acho que estou engordando, caro leitor... =)


As delicadezas do cotidiano nos fazem assim, DOCES!
Precisamos estar abertos para receber tais bênçãos (como assim, eu gosto de dizer!)
Para ser doçura e viver doce, é preciso querer engordar!
Engordar de sentimentos bons... Se “embuchar” “embebedar” de sorrisos, músicas, trabalhos, sintonias, poesias, leituras, carinhos, amizades e claro, boas gargalhadas com sorrisos doces!
O doce nos completa nos preenche, nos satisfaz. ( é TESTADO e COMPROVADO, pessoal! )
Quer um pedaço?
                  Lambuze-se!
   Experimente!
                   Ter uma vida doce. . .
É isso que eu desejo a nós! =)


Carolina Julho/2012