"...Deixa-te levar pelo menino que foste.
Porque, na verdade, de nada eu gostaria mais ou de poucas coisas eu gostaria tanto do que poder passear pela rua, não levando pela mão o menino que fui, mas sendo levado pela mão desse menino.
Se eu pudesse recuperá-lo, tê-lo agora mesmo, quanto eu gostaria.
Vocês podem pensar: mas que idéia estranha essa, você é ele e ele é você.
Não, eu sou ele, mas ele não sou eu. Um deles não conhece o outro; e o fato de que um deles não conheça o outro me perturba.
E por isso eu digo:deixa-te levar pelo menino que foste.
Talvez o menino, supondo que os meninos não são maus, alguns são péssimos, claro , fosse capaz de, na hora que vamos fazer uma coisa errada, de puxar pela nossa roupa e dizer:
não faça isso."
(Saramago)
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