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sábado, 29 de março de 2014

Catavento e Girassol






Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora do teu girassol 

Entre o escancaro e o contido, eu te pedi sustenido e você riu bemol 

Você só pensa no espaço, eu exigi duração 

Eu sou um gato de subúrbio, você é litorânea 



Quando eu respeito os sinais, vejo você de patins, vindo na contramão 

Mas quando ataco de macho, você se faz de capacho e não quer confusão 

Nenhum dos dois se entrega, nós não ouvimos conselho 

Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho 



Eu sou do Engenho de Dentro e você vive no vento do Arpoador 

Eu tenho um jeito arredio e você é expansiva, o inseto e a flor 

Um torce pra Mia Farrow, o outro é Woody Allen 

Quando assovio uma seresta, você dança havaiana 



Eu vou de tênis e jeans, encontro você demais, escarpin, soiré 

Quando o pau quebra na esquina, cê ataca de fina e me ofende em inglês 

É fuck you, bate bronha e ninguém mete o bedelho 

Você sou eu que me vou no sumidouro do espelho 



A paz é feita num motel de alma lavada e passada 

Pra descobrir logo depois que não serviu pra nada 

Nos dias de carnaval aumentam os desenganos 

Você vai pra Parati e eu pro Cacique de Ramos 



Meu catavento tem dentro o vento escancarado do Arpoador 

Teu girassol tem de fora o escondido do Engenho de Dentro da flor

Eu sinto muita saudade, você é contemporânea 

Eu penso em tudo quanto faço, você é tão espontânea 



Sei que um depende do outro só pra ser diferente, pra se completar 

Sei que um se afasta do outro, no sufoco, somente pra se aproximar 

Cê tem um jeito verde de ser e eu sou meio vermelho 

Mas os dois juntos se vão no sumidouro do espelho 




(GUINGA & BLANC, 2001, faixa 10)







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